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O boom da alimentação natural para pets no Brasil e o médico veterinário

O boom da alimentação natural para pets no Brasil e o médico veterinário

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Prof.a Andrea Barros, DVM, MSc

CRMV-PR 2863 e CRMV-SP 22897/VP

 O assunto não é novo!

Na verdade sempre existiu considerando a prática da alimentação natural do tipo caseira, limitada em geral a destinar sobras da alimentação da família ao animal e da produção de alimentos humanos. Mas, a nutrição e a ciência alimentar, de seres humanos e animais de estimação, cresceram drasticamente nos últimos anos e levaram a avanços inquestionáveis na saúde e no bem-estar. Atualmente, a maioria dos alimentos pets, úmidos ou secos produzidos industrialmente, são formulados para fornecer uma ingesta completa e equilibrada de todos os nutrientes essenciais para cães e gatos, e ao longo do tempo os problemas típicos de desequilíbrio em alimentação caseira foram sendo sanados, além de oferecer comodidade e praticidade aos proprietários. Mesmo assim, no início dos anos 2000, uma pesquisa de prática de alimentação para animais de estimação mostrou que a proporção de proprietários de pets nos EUA e na Austrália que os alimentavam apenas com refeições preparadas em casa era < 10%, ou seja, o tema não deixou de circular, apesar de um predomínio há muitos anos, das rações e alimentos industrializados.

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Assim, apesar disso sua volta vem causando um certo furor no mercado de alimentos para pets brasileiro, e ao mesmo tempo uma série de dúvidas, em especial do veterinário frente a esse novo perfil de proprietário que faz questão que seu animal migre para um programa de alimentação natural, seja este alimento preparado pelo responsável ou adquirido de empresas que se intitulam “especializadas”, de fornecedores autônomos ou já comprados diretamente em lojas pets.

A proposta nesta série de três publicações, com uma postagem por semana a partir desta, é apresentar os principais aspectos relacionados ao emergente papel da alimentação natural,  seus conceitos, seu apelo de saudável diante dos alimentos industrializados para cães e gatos, isentos de posicionamentos pessoais, apenas com o intuito informativo, mas com foco no veterinário e sua participação nessa nova tônica que tem os proprietários a frente exigindo novos rumos no planejamento dietético de seu animalzinho, assim os tópicos abordados incluem:

*Nesta primeira postagem: O cenário atual. A compreensão dos objetivos do proprietário. Quem tem medo da alimentação natural? A indústria não tem: como mercado e a indústria de alimentos pet estão reagindo. O clínico e sua participação ativa no esclarecimento e orientação ao consumidor buscando garantir a saúde animal.

*Na segunda postagem: A conceituação de alimento natural e tipos encontrados no mercado. Dietas caseiras x dietas comerciais. Diferenças entre os alimentos naturais e convencionais: o papel destas na clínica. Uptodate: dietas vegetarianas e veganas, e agora?

*Na terceira postagem: Clínico e nutrólogo – como fica o médico veterinário? A prática da alimentação natural na clínica de cães e gatos.

Existem duas visões opostas sobre o quanto o médico veterinário é capaz de fornecer aos seus clientes conselhos nutricionais que o satisfaçam e esclareçam, diante do crescimento quase que diário, da chamada alimentação natural e saudável e o surgimento de um certo grau de rejeição aos alimentos excessivamente processados e industrializados:

1. A indústria de alimentos e sua relação com a clínica veterinária: trata-se de uma visão geralmente dada em conjunto pela indústria de alimentos para animais de estimação, aliada aos meios reguladores e de fiscalização governamentais, sendo a que predomina devido ao compromisso da indústria de alimentos para pets com a saúde e nutrição destes. É da própria indústria, frente ao consumidor, que deriva a necessidade de padrões regulatórios, dietas e informações nutricionais com base nas últimas pesquisas e melhores conhecimentos disponíveis. Neste sentido, torna-se lógico que a profissão veterinária endosse seus produtos, estimulando o consumo destes alimentos, até mesmo utilizando as informações de pesquisa e mercado produzidas por esta mesma indústria, como parte da orientação para garantir uma melhor qualidade de vida aos seus pacientes.

2. Proprietários, produtores de alimentos naturais e segmentos da clínica veterinária: o segundo ponto de vista é apoiado por uma parcela dos clínicos e um crescente número de proprietários de animais e pequenos produtores de alimentos naturais para animais de estimação, sendo um posicionamento mais recente trazendo como crítica o fato da indústria de alimentos para pets se alinhar ao médico veterinário por meio de estratégias de marketing e fidelização de cliente, como o patrocínio, permitindo de certa forma que esta indústria norteie a discussão técnica sobre nutrição. Para os que representam a grande onda da alimentação natural, estes veterinários acabam sendo considerados por muitos como deficitários na prática da nutrição, justamente por se tornarem refletores dos objetivos da indústria e principal player no convencimento do público de que apenas o produto formulado e industrializado é de fato a melhor escolha seus animais de estimação.

 

Entendendo o proprietário: a mola propulsora dessa mudança

Como tudo isso começou?

Em 2007 houve um grande recall nos Estados Unidos com o recolhimento de 60 milhões de enlatados para animais. O FDA (Food and Drug Administration) recebeu mais de 14.000 queixas sobre animais com sinais de intoxicação, com registro oficial de 16 cães mortos devido ao consumo deste alimento. O problema estava no glúten de trigo importado da China, contaminado com melamina muito utilizada na indústria plástica, de pesticidas, sendo tóxica para monogástricos.

Esse foi o sinal de alerta para proprietários preocupados em garantir uma alimentação segura e de qualidade para seus pets e, diante desta nova demanda,   começaram a surgir no mercado produtos diferenciados, anunciados como naturais e saudáveis variados: alimento fresco resfriado, alimento cru, alimentos orgânicos; alimento funcional, livre de grãos (grain free); com ingredientes exóticos; refeições caseiras enriquecidas com suplementos; dietas a base de carne (carne-centric) e a base de proteínas (protein-focused), além de dietas específicas para atender necessidades do dia a dia da clínica de pequenos em: dermatologia, gastrenterologia, alergologia, nefrologia e urologia, geriatria e outros. Imediatamente se detectou uma maior confiabilidade dos proprietários nestes alimentos naturais, comparativamente aos ditos alimentos convencionais: as rações secas ou úmidas industrializadas.

Esses proprietários reagiram a esta situação em busca do melhor para seus pets baseados na experiência pessoal que viviam com a vinda da “geração saúde”, com nítido interesse em uma nutrição baseada em alimentos frescos, naturais e com menor grau de industrialização possível, o incidente com a melamina só serviu de estopim para que superassem a barreira da informação corrente de que a ração é insubstituível na vida de um animal por garantir o fornecimento ideal e equilibrado de nutrientes, e de forma segura, o que passou a ser questionado. Sem dúvida nenhuma um processo de humanização na alimentação animal.

Um caminho sem volta

Atualmente, os proprietários já estão em outro patamar em suas expectativas da “alta qualidade” para o alimento “humanizado”; ou seja, agora desejam opções de alimentos para animais que tenham o mesmo nível de garantias e preocupações que há na produção de alimentos humanos, como o fim do uso de conservantes não naturais e a eliminação do uso de ingredientes geneticamente modificados (GMOs).

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Tais dados são de extrema importância, pois impressionantemente, pelo menos 55% dos donos de animais americanos e franceses, em estudo, afirmam que, se o orçamento está limitado, há total disponibilidade em desistirem de itens pessoais para que seu pet não seja privado de alimentos de alta qualidade, ou seja, estão decididos e não se questionam quanto a relevância do papel de seus pets em suas vidas e a dedicação que devem a estes.

No Brasil, igualmente se nota uma clientela com o mesmo perfil, crescente e exigente, e o clínico sente essa mudança em seus atendimentos e no próprio mercado. A colocação, quase que diária, de novos produtos classificados como naturais, além de suplementos e petiscos é notável, mas o que preocupa é um mercado sendo bombardeado por ofertas de serviços de refeições caseiras, planejamentos e acompanhamento dietético, pet chefs e produtos informais sem um aparente acompanhamento e orientação técnica e profissional competente e habilitada para tal como os veterinários, por exemplo.

O clínico deve voltar seu olhar novamente para as duas visões iniciais, e ponderar a respeito de sua capacidade para orientar ou argumentar com seu cliente de forma clara, objetiva e tecnicamente embasada, a conclusão de muitos desemboca em um  caminho só: a atualização e capacitação neste terreno com o mesmo carinho e interesse que se dispende a temas como a cirurgia e as muitas áreas da medicina interna, pois é importante que os profissionais veterinários compreendam os riscos e os benefícios das dietas preparadas em casa, ou comerciais naturais, e sem esquecer do lado humano vinculado à motivação por trás da decisão de um proprietário em seguir este tipo de regime de alimentação, para garantir uma saúde ideal para seu pet.

Quem tem medo dos alimentos naturais? A indústria não tem! Como mercado e a indústria de alimentos pet mundiais estão reagindo

Na indústria, um dos mais importantes princípios da inovação bem-sucedida envolve olhar para além do próprio núcleo ou conjunto competitivo em seu segmento, para considerar novas formas e necessidades dos seus consumidores.

O mercado é claro quanto ao que os consumidores pretendem que passe a fazer parte da oferta no painel de opções de alimentos para seus animais, a indústria por sua vez está incorporando rapidamente os novos conceitos. Em 2016, por exemplo, as vendas normais do mercado de alimentos para animais de estimação nos EUA superaram US $ 8,2 bilhões refletindo um crescimento anual de 12,1% entre 2012 e 2016 e agora representam 25% do mercado total de alimentos para pets neste país.

Trata-se de uma tendência diferente que surgiu entre os proprietários que passaram a comprar mais alimentos comercializados como naturais, em vez de orgânicos, e que, vale o destaque aqui, são produtos distintos numa classificação generalista, mas em ambos os casos os consumidores acreditam que alimentos naturais e orgânicos são mais seguros e saudáveis do que as versões convencionais.

O mercado de alimento natural para pets no exterior é mais maduro que o brasileiro e conta com um crescimento histórico de pelo menos vinte anos a frente do nosso, e por isso já mostra sinais importantes como a percepção de que apenas porque um produto é natural não significa necessariamente que seja de melhor qualidade. Os consumidores fora do Brasil entendem que fórmulas limpas, com ingredientes naturais de qualidade são um requisito mínimo para qualquer tipo de alimento. A sustentabilidade ambiental de todo o ciclo de vida de um animal de estimação, também é importante para os consumidores que compram produtos naturais, de acordo com os relatórios anuais de 2016 e 2017 do setor. Isso inclui as técnicas de embalagem, transporte, produção e agricultura usadas para cultivar os ingredientes. Esses são dilemas e problemas que a atual indústria pet encontra e se distanciar dos produtos quer sejam orgânicos ou naturais não foi opção neste segmento, ao contrário, foi entendido como um novo desafio e que está sendo enfrentado.

Um outro fator significativo, e que os veterinários brasileiros devem prestar atenção, é quanto a presença no mercado de massa, dos alimentos naturais para animais, que tende a crescer mais ainda com o interesse já demonstrado de grandes marcas como a Nestlé Purina, Mars e a J.M. Smucker americanas, que já estão adquirindo e incorporando marcas orgânicas e naturais menores.

Como sempre e em tudo que se refere a indústria e seu mercado, os desejos dos consumidores continuarão a dominar o crescimento contínuo desse segmento de alimentos para animais de estimação, é importante o clínico ter isso em mente, a indústria não está recriminando a entrada dos naturais, assim como já absorveu anteriormente os orgânicos, o ponto é como o clínico brasileiro adotará e trabalhará isso junto a indústria local e seus clientes.

Os consumidores continuarão a comprar produtos naturais de empresas que acreditam serem verdadeiras, transparentes e a colocar a saúde dos animais em primeiro lugar, mas a transparência na apresentação desses produtos naturais e informações a respeito de suas características e garantias e qualidade serão fundamentais, resumindo, um dos pontos críticos é a rotulagem, que está diretamente relacionada a regulamentação dos processos de produção.

Alguns estudos apontam para a dificuldade dos consumidores em entender os rótulos dos alimentos para animais de estimação.  Informações mais claras e precisas na rotulagem de alimentos ajudam os consumidores a selecionar produtos que satisfaçam seu desejo de promover o cuidado dos animais e melhorar a saúde destes.

Para se ter uma ideia do tamanho do trabalho ainda a ser feito, nos EUA, rótulos de naturais em comparação com os rótulos de orgânicos em alimentos para cães e gatos, carecem de maior cuidado e regras. Globalmente existem aspectos sendo discutidos, como a simples identificação de “natural”. Natural é escrito da mesma forma em inglês, espanhol e português, mas não significa que os alimentos para animais naturais sejam necessariamente mais seguros ou menos processados do que os produtos que não possuem um rótulo natural e alguns aspectos podem divergir de um país para outro, como a possibilidade de adição de vitaminas e minerais por exemplo, ou de algum nutriente de origem sintética. Assim, os rótulos de alimentos naturais para animais ainda se encontram relativamente não regulamentados.

Mas, o segmento caminha para essa regulamentação. A Associação de Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (PFMA), um organismo comercial que representa a indústria de alimentos para animais de estimação do Reino Unido, acaba de publicar as novas diretrizes setoriais para a fabricação de alimentos para animais de companhia comercializados no Reino Unido. As diretrizes, que promovem as melhores práticas no setor, foram desenvolvidas em conjunto com Defra, a Agência de Saúde Animal e de Plantas (APHA), Public Health England (PHE) e a Food Standards Agency (FSA).

Essas diretrizes têm como objetivo praticamente um resumo de tudo o que já foi mencionado anteriormente:

  • Melhorar a segurança, a higiene e a qualidade nutricional dos alimentos para animais no Reino Unido.
  • Resumir e discriminar os requisitos regulamentares específicos do setor.
  • Descrever as recomendações de “melhores práticas” na produção de alimentos naturais para animais.

Pesquisas de mercado e do próprio setor da indústria de alimentos para pets mostram as prioridades e objetivos dos donos de animais na escolha do alimento que querem oferecer e que vão muito além da questão da rotulagem, de acordo com o que segue abaixo dos dados captados pela The Nielsen Company (2016) e ilustrados e nas figuras 01 e 02:

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1. Os proprietários estão dizendo não aos transgênicos.

2. A natureza está se sobrepondo ao cientificamente formulado confirmando a crença popular de que a saúde começa pela cozinha.

3. Os consumidores querem mais franqueza dos fabricantes e produtores quanto a origem dos alimentos e seus ingredientes. Rótulos mais claros e que realmente informem sobre o alimento.

4. Os tutores de pets entendem que apesar da tendência à humanização, isso não significa descuido quanto as escolhas mais saudáveis aos seus pets frente a qualquer modismo que possa se apresentar.

5. É certo que as formas de alimentação não convencionais causam certo fascínio junto aos consumidores, mas sempre focados na saúde do animal.

6. Sabores e apresentações exóticas demais não são garantia de aceitação, pois os consumidores tendem a ser mais conservadores ao final de seu processo de escolha. Os consumidores não estão convencidos de que a humanização signifique gourmetização do alimento, exemplo, não espere muito sucesso em versões pets de petit gateau aux Crème Brûlée ou um frango ao molho Thermidor.

 

A esta altura, alguns podem se perguntar: “Mas se o consumidor deseja para seus pets, alimentos naturais para aproximar ao seu próprio estilo e conceito de vida saudável, rejeitando os alimentos convencionais e mais industrializados, por que comprariam os alimentos naturais oriundos destas mesmas indústrias? Por que a indústria faz essa aposta e por quê aparentemente os resultados confirmam essa aposta como certa?”

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A resposta não é muito difícil e as pesquisas do próprio setor mostram isso, os consumidores querem alimentar seus animais de estimação com refeições mais naturais, e podem estar insatisfeitos com as opções que encontram nas prateleiras de mercado, mas estão disponíveis a procurá-los e adquiri-las fora do circuito de compra que frequentam, mas não querem correr riscos comprando alimentos que não atendam aos seus padrões de qualidade ou sofrer o inconveniente de preparar as refeições dos seus animais de estimação a partir do zero. Produtores menores podem não atingir esse patamar de regramento e informações na mesma velocidade de uma grande indústria já tradicional no segmento e que pode oferecer e ambos já perceberam isso: o consumidor e o pequeno e médio produtor desses alimentos. Assim, uma indústria pode oferecer paralelamente uma marca de alimento natural e outra de produto convencional e ser uma opção que interesse ao consumidor, apesar de parecer paradoxal.

Assim, é importante o clínico compreender o significado desse posicionamento da indústria para entender o quanto essa mudança de postura do consumidor é importante, séria e significativa.

O exemplo da indústria foi apenas para esclarecer ao profissional brasileiro de que a indústria não tem medo e nem recrimina ou desqualifica a alimentação natural, desde que tecnicamente e profissionalmente tratada, ao contrário, é uma das maiores interessadas.

O pequeno e médio produtor são e devem ser bem-vindos, porém diante das mesmas considerações quanto a regulamentação vigente no Brasil, e cumprimento quanto as exigências de competência profissional e de responsabilidade técnica que é em verdade o que mais causa temor quando da falta destes frente a: elaboração, produção, venda e recomendação dos alimentos pet naturais no mercado de varejo no Brasil. O pouco esclarecimento dos consumidores brasileiros sobre estes produtos, que em alguns casos podem não ir além dos modismos vigentes, e que adicionalmente, muitos parecem aceitar a questão do “homemade” como “garantia de uma qualidade, que seria tal e qual a da cozinha de sua casa”, tornando o produto “automaticamente e magicamente seguro, de qualidade e saudável”, são problemas graves e que podem reverter em consequências à saúde dos animais.

Esta conscientização do proprietário está muito relacionada com a clareza da informação dos produtos, a ser oferecida de forma franca e honesta por quem produz, e deve estar ligada também ao médico veterinário, e não somente à indústria. O profissional que une as duas pontas é o clínico, que deve se posicionar substancial e robustamente, com dados sólidos quanto aos benefícios e os contras associados a esta forma de alimentar o pet,  sem paixões ou ilusões.

A participação ativa do médico veterinário

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O momento é propício para uma necessária atualização e capacitação do profissional da clínica de pequenos e a incorporação da orientação nutricional em seu roll de serviços e atendimentos em sua rotina.

Ao veterinário, independentemente de seu posicionamento pessoal, cabe buscar fundamentos no assunto, para que possa não só argumentar com seus clientes, mas justificar qualquer recomendação nutricional aos seus pacientes.

Como o clínico pode se beneficiar com este boom?

Analise as seguintes PERGUNTAS-CHAVE e reflita para modificar sua maneira de se relacionar com seu cliente que tem expectativas em adotar a alimentação natural para seu pet:

  1. Como as tendências dos alimentos humanos afetam as expectativas dos consumidores quanto aos alimentos de seus animais de estimação? Eu estou atento a estes detalhes? Estou devidamente preparado e atualizado? Minha equipe também?
  2. Como agregar elementos da “humanização” dos pets e de sua alimentação de forma mais eficaz para melhorar o meu relacionamento com o mercado e seus novos produtos e ao mesmo tempo atender às exigências dos proprietários?
  3. Quais são as melhores fontes para obter as informações sobre nutrição que forneço aos meus clientes?
  4. Eu repasso criticamente a informação científica que os fabricantes de alimentos para animais apresentam?

As vantagens do endosso veterinário como uma tática de mercado ficam claras quando as outras fontes de informação disponíveis para o consumidor são consideradas. A indústria de alimentos para animais de estimação gasta uma parcela volumosa de recursos financeiros somente em marketing variadíssimo, desde elementos na própria clínica veterinária com patrocínio, passando por folhetos, sites e embalagens atraentes, entre outros. Em vez de esclarecer, essa quantidade de informações tende a confundir resultando na procura de seus veterinários para o aconselhamento dietético.

E não é diferente quando o assunto é alimentação natural, que também vive um momento de muita propaganda, em especial nas mídias virtuais, diluída em centenas de pequenos produtores, autônomos e curiosos que enxergam uma oportunidade de negócio, pois a promessa de natural e saudável é poderosa junto ao consumidor.

Mas como lidar com toda essa publicidade? Seja da indústria com seus alimentos convencionais ou dos pequenos e médios produtores dos alimentos naturais no mercado brasileiro?

O mercado pet está repleto de informações no mínimo confusas. Claramente, os veterinários precisam melhorar o nível de seus conhecimentos na área da nutrição.  Além da graduação ter que rever a forma como trata a nutrição pet em sua matriz curricular e como elemento interdisciplinar, a educação continuada do profissional precisa incluir e estimular cada vez mais a atualização na temática.

Os veterinários devem se tornar mais proativos ao solicitarem e validarem informações de qualquer tipo de alimento que possam surgir como possibilidade em seu aconselhamento nutricional, sejam estes: convencionais, orgânicos ou naturais. Quando fornecidas, o veterinário deve avaliar criticamente antes de acatar e repassar aos seus clientes, seja de uma grande indústria, pequeno ou médio produtor, ou até mesmo de pet chefs ou cozinheiros que se apresentem como fornecedores de refeições caseiras pronta entrega em sua clínica.

Lembre-se: promover a saúde e o bem-estar em cães e gatos é um objetivo comum para veterinários e proprietários de animais de estimação.

Não esqueça, semana que vem: A conceituação de alimento natural e tipos de encontrados no mercado. Dietas caseiras x dietas comerciais. Diferenças entre os alimentos naturais e convencionais: o papel destas na clínica. Uptodate: dietas vegetarianas e veganas, e agora?

© TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS – Lei 9.610/1998. Proibida a cópia, ou reprodução parcial ou total, sem a devida citação autoral, por qualquer meio.

Como citar este artigo: BARROS, A. R. O boom da alimentação natural para pets no Brasil e o médico veterinário. Disponível em: <https://www.equalisveterinaria.com.br/o-boom-da-alimentacao-natural-para-pets-no-brasil-e-o-medico-veterinario> Acesso em: xx de xxxx de xxxx.

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